Para início de conversa já abro que temos tudo a comemorar: a vida, as tradições, a cultura, a gastronomia, a hospitalidade, a energia do povo e um rol de bons acontecimentos que se seguiram ao descontentamento generalizado do povo rio-grandense por volta de 1835. Claro que esta data é apenas um marco para nos situar no tempo, uma vez que tivemos antecedentes importantes e as consequências ainda hoje se encontram vivas entre nós.
Naquela época os impostos já incomodavam. O povo pagava certinho e a aplicação era duvidosa. A falta de habilidade das autoridades constituídas para resolverem as questões que surgiam também era flagrante. A rivalidade entre os dois maiores partidos políticos (liberais e conservadores) se constituía numa batalha diária e acirrada. O descontentamento do povo gaúcho com os atos da coroa levou os líderes a conspirarem e se articularem para separar o Rio Grande do Sul do resto do Brasil. Seríamos uma república independente.
E o que temos nos dias atuais? Muitas semelhanças políticas, históricas e ideológicas. Claro que em proporções maiores e mais sérias, pois a população é muito maior e os problemas se acentuaram. Mas a raiz de tudo, a meu ver, continua centrada na administração pública que teima em não se separar da administração pessoal, em causa própria. O sistema de compadrio, tão comum e aceito na época, hoje é inconstitucional. Inconstitucional? Não sei, somente para alguns casos, pois os demais continuam sendo legalizados através de atos secretos e falcatruas.
Crise política no Estado continuamos tendo, mas assim como na Revolução Farroupilha as coisas vão se acomodar e a história se encarregará de contar as peripécias que ficarão "em segredo". Outra semelhança que chama a atenção é a crise entre os partidos. Mas esta é ininteligível. Na época da Revolução Farroupilha era fácil entender e saber de que lado alguém estava, pois os lados acompanhavam a descrição dessa palavra do dicionário: só existem dois lados. Hoje, os lados possuem outras conotações, eles valem de conformidade com a conveniência da cidade, das pessoas, das composições políticas. Dá para aceitar que dois partidos sejam afins numa cidade e perto da mesma, num raio de poucos quilômetros, sejam oposição?
Por isso que eu entendo a dificuldade dos alunos em entender e interpretar os textos: as palavras se perderam no caminho, os dicionários, tal como as leis, são feitos para ocupar papel e lugar no espaço e não para serem cumpridos. Se fossem o lado continuaria sendo o que deveria ser. E seguindo o "lado" temos a moral, a vergonha, o interesse, o parentesco, enfim, as palavras estão perdidas tanto no seu uso quanto no seu significado. E para os achar novamente teremos que ter uma re-leitura do Brasil.
Mas, na Semana Farroupilha, o som da gaita e a alegria dos ranchos vão amenizar muitas situações. Depois, voltaremos à realidade.
Publicado no Jornal O Sentinela no dia 16/09/2010
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