Muitas pessoas
pensam que o mais sublime e delicioso instante do amor se dava antes de ele ter
acontecer: o chamado o flerte. Aquela troca de olhares furtivos mas
profundamente interessados, aquele fingir de nada querer tudo querendo, aquele
disfarçar de indiferença, deixando notar, no entanto, que não há outra meta
mais importante na vida naquele instante do que conquistar o alvo do
flerte, aqueles desdéns planejados, estratégicos e maliciosos que intermedeiam
o flerte, até o momento culminante desse jogo emocionante em que os quatro
olhos se encontram e se fixam, aquele turbilhão de promessas imaginárias que
exalam do flerte, talvez seja o flagrante mais elucidativo e saboroso do amor,
maior e mais intenso e mais fogoso até do que o futuro contato dos corpos.
Mas seria o
flerte o ápice exordial do amor? Seria o momento do êxtase do amor, este
situado nas suas primícias? Porém não poucas são as pessoas que afirmam que o
momento seguinte a este ficaria em primeiro lugar, que é quando, depois do
flerte ou até mesmo da inexistência do flerte, se instalou na relação de
amizade ou em qualquer aproximação entre um homem e uma mulher uma dúvida
instigante e deleitosa: será que ela está me amando? Será que ele está me
querendo? Ou apenas está sendo gentil e cordial comigo? Ou deseja apenas ser
minha amiga? Ou sou mais uma das pessoas que a atraíram por atributos que nada
têm a ver com o amor e que apenas se destacam por assinalada sociabilidade?
Insônia. É
impossível se entregar ao sono quando esta dúvida ao mesmo tempo atordoante e
deliciosa se instala na mente de alguém para quem falta apenas saber se o outro
gosta e quer, para apaixonar-se perdidamente. Talvez não haja prazer mais
extenso e abrasador que este: quando uma dúvida que falta pouco para se tornar
certeza desejada toma conta de uma pessoa tocada pelas ondas anunciadoras do
amor. É tão avassaladoramente saborosa esta dúvida que alguns que são por ela
tocados pedem aos céus que seja adiada a solução, mesmo que venha a ser
favorável. Torcem para que a vida não lhes tire tão depressa aquela sensação
divina de esperança. E há até alguns que mesmo depois do amor consolidado
preferem sempre ter em seu espírito esta dúvida como um nutritivo estímulo ao
romance permanente.
Bem na verdade
o que não se pode é deixar de viver qualquer uma destas situações que fazem com
que nos sintamos mais vivos, plenos de uma felicidade que chega nos deixar com
aparência ridícula, mas que se todas as pessoas fossem diariamente ridículas e
não ridicularizadas, o mundo seria bem melhor. Talvez não tivéssemos tempo para
praticar maldades e atos que gerem a nossa própria destruição.
Desejo um bom
final de semana e aproveito este espaço para convidar você a conhecer o novo
blog de nossa cidade, o N3, para o qual fui convidado a integrar, pelos amigos,
Herton Couceiro e Rafael Tourem. Aquilo que é fato virará notícia no N3,
acesse: canaln3.blogspot.com
Publicada dia 06/10/2011
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