Recentemente o Amor Exigente,
promoveu um seminário internacional, o qual foi um sucesso e merece todo o
reconhecimento. Dentre os palestrantes estava o Dr. Luiz Antônio Barbará Dias,
que em sua palestra chamou a atenção dos presentes para a sensação do
pertencimento, a pessoa tem que entender que ela faz parte dos processos da
sociedade e como tal, tem a sua parcela de contribuição pela melhora ou não do
lugar onde vivemos, entre diversos outros “alertas”, chamando as pessoas em suas
responsabilidades de cidadão e ser humano. Aproveitei este tema para comentar
também, no espaço que tenho aqui no jornal.
Diante da atual situação que vivemos, com valores
importantes cada vez ficando mais fracos, surge a preocupação com a importância
de uma cultura cívica para aferição da qualidade da democracia e
consequentemente da qualidade de vida, um mundo melhor para todos. Tem-se
falado muito ultimamente das virtudes da participação em termos de geração e
acúmulo de capital social fundamental para conter os efeitos da
individualização, da fragmentação e do isolamento do estado em relação à
sociedade. Ganhos em capital social se tornam um indicador de modernização ou
de complexidade da estrutura social.
Do ponto de vista mais estrutural poder-se-ia dizer
que o contexto no qual emerge hoje a percepção ou a demanda por uma cultura
cívica já é marcado por uma situação de pluralismo social, cultural e político,
mas também pela experiência de crise do estado e toda a redefinição dos
padrões de relação entre estado e sociedade que o discurso liberal hegemônico
sobre ela tem gerado. Também há um retorno ao local, uma tentativa de repensar
o padrão das políticas públicas, muito a partir de experiências localizadas,
fragmentadas em alguns casos. A ênfase sobre o aspecto local é muito forte.
Outro condicionamento importante para a emergência
de uma nova cultura cívica é a prevalência gritante de desigualdades sociais
num quadro de que o Brasil é um dos líderes mundiais, mas de forma alguma
isolado, que não se expressam apenas do ponto de vista da distribuição de
recursos materiais, mas também na prevalência de padrões hierárquicos de
relação, os quais definem quem é mais ou menos cidadão, quem precisa se
justificar para ocupar a esfera pública ou quem tem acesso "natural"
a ela. Não é de admirar, então, que a correlação entre ser afro-brasileiro,
mulher, pouco ou não-alfabetizado e ser mais pobre ou excluído, é sólida na
sociedade brasileira. As desigualdades de renda se somam ao racismo, ao machismo,
ao preconceito contra os “sem-educação”, dentre outros atributos.
Emerge
uma preocupação com a identidade,
tanto dos grupos quanto dos indivíduos inseridos neste contexto. Rever a identidade, questionar a identidade, reafirmar a identidade tornam-se
exigências correntes, imputadas aos grupos ou desencadeadas internamente a
eles. Pertencer a uma organização, grupo, movimento, torna-se uma exigência e um problema, quando os referenciais se
turvam, as fronteiras se tornam incertas e a ameaça de desagregação ou perda de
identidade se amplia. Num exemplo bem prático podemos dizer que um bebê, ao nascer, possui uma
"pequena" consciência que necessita se desenvolver. Ele se apóia nos
familiares para saber quem é e o que são as coisas do mundo. Seu pai o abraça e
diz: "vem cá meu filho..." Frases simples como esta vão demarcando o
mundo e vão nomeando a realidade. Ou seja, para o bebê é uma questão de
sobrevivência esta fixação no quem vem de fora. É assim que ele aprende e
se desenvolve.
Junto aparece uma sensação
agradabilíssima: pertencimento. Eu pertenço a algo e me sinto bem e muito
seguro neste algo. O problema é que ao longo da vida, as pessoas vão
esquecendo da sensação do pertencimento, esquecendo que pertencem ao meio e que
são responsáveis pelo que está acontecendo, se o lugar onde vivemos não está
bom, é porque nós estamos permitindo,
porque nós enquanto cidadãos, não colocamos um basta naquilo que está
errado. Porque nós olhamos somente para o nosso “eu” e não enxergamos o nosso
semelhante, ignoramos a situação dele, que muitas vezes é péssima e leva-o a
entrar para o mundo da marginalidade. Temos quase por regra de colocar a
responsabilidade social nos governos, enquanto deveríamos assumir o nosso papel
e arregaçar as mangar, porque o governo sozinho jamais conseguirá...
Publicado dia: 09/11/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário