08/01/2013

Sensação de pertencimento


             Recentemente o Amor Exigente, promoveu um seminário internacional, o qual foi um sucesso e merece todo o reconhecimento. Dentre os palestrantes estava o Dr. Luiz Antônio Barbará Dias, que em sua palestra chamou a atenção dos presentes para a sensação do pertencimento, a pessoa tem que entender que ela faz parte dos processos da sociedade e como tal, tem a sua parcela de contribuição pela melhora ou não do lugar onde vivemos, entre diversos outros “alertas”, chamando as pessoas em suas responsabilidades de cidadão e ser humano. Aproveitei este tema para comentar também, no espaço que tenho aqui no jornal.

Diante da atual situação que vivemos, com valores importantes cada vez ficando mais fracos, surge a preocupação com a importância de uma cultura cívica para aferição da qualidade da democracia e consequentemente da qualidade de vida, um mundo melhor para todos. Tem-se falado muito ultimamente das virtudes da participação em termos de geração e acúmulo de capital social fundamental para conter os efeitos da individualização, da fragmentação e do isolamento do estado em relação à sociedade. Ganhos em capital social se tornam um indicador de modernização ou de complexidade da estrutura social.

Do ponto de vista mais estrutural poder-se-ia dizer que o contexto no qual emerge hoje a percepção ou a demanda por uma cultura cívica já é marcado por uma situação de pluralismo social, cultural e político, mas também pela experiência de crise do estado e toda a redefinição dos padrões de relação entre estado e sociedade que o discurso liberal hegemônico sobre ela tem gerado. Também há um retorno ao local, uma tentativa de repensar o padrão das políticas públicas, muito a partir de experiências localizadas, fragmentadas em alguns casos. A ênfase sobre o aspecto local é muito forte.

Outro condicionamento importante para a emergência de uma nova cultura cívica é a prevalência gritante de desigualdades sociais num quadro de que o Brasil é um dos líderes mundiais, mas de forma alguma isolado, que não se expressam apenas do ponto de vista da distribuição de recursos materiais, mas também na prevalência de padrões hierárquicos de relação, os quais definem quem é mais ou menos cidadão, quem precisa se justificar para ocupar a esfera pública ou quem tem acesso "natural" a ela. Não é de admirar, então, que a correlação entre ser afro-brasileiro, mulher, pouco ou não-alfabetizado e ser mais pobre ou excluído, é sólida na sociedade brasileira. As desigualdades de renda se somam ao racismo, ao machismo, ao preconceito contra os “sem-educação”, dentre outros atributos.

Emerge uma preocupação com a identidade, tanto dos grupos quanto dos indivíduos inseridos neste contexto. Rever a identidade, questionar a identidade, reafirmar a identidade tornam-se exigências correntes, imputadas aos grupos ou desencadeadas internamente a eles. Pertencer a uma organização, grupo, movimento, torna-se uma exigência e um problema, quando os referenciais se turvam, as fronteiras se tornam incertas e a ameaça de desagregação ou perda de identidade se amplia. Num exemplo bem prático podemos dizer que um bebê, ao nascer, possui uma "pequena" consciência que necessita se desenvolver. Ele se apóia nos familiares para saber quem é e o que são as coisas do mundo. Seu pai o abraça e diz: "vem cá meu filho..." Frases simples como esta vão demarcando o mundo e vão nomeando a realidade. Ou seja, para o bebê é uma questão de sobrevivência esta fixação no quem vem de fora. É assim que ele aprende e se desenvolve. 

Junto aparece uma sensação agradabilíssima: pertencimento. Eu pertenço a algo e me sinto bem e muito seguro neste algo. O problema é que ao longo da vida, as pessoas vão esquecendo da sensação do pertencimento, esquecendo que pertencem ao meio e que são responsáveis pelo que está acontecendo, se o lugar onde vivemos não está bom, é porque nós estamos permitindo,  porque nós enquanto cidadãos, não colocamos um basta naquilo que está errado. Porque nós olhamos somente para o nosso “eu” e não enxergamos o nosso semelhante, ignoramos a situação dele, que muitas vezes é péssima e leva-o a entrar para o mundo da marginalidade. Temos quase por regra de colocar a responsabilidade social nos governos, enquanto deveríamos assumir o nosso papel e arregaçar as mangar, porque o governo sozinho jamais conseguirá...

Publicado dia: 09/11/2011

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