09/02/2011

Considerações sobre o poder

Nada é tão perigoso quanto o poder. Para o poderoso não há o "não", nem portas fechadas, nem filas, nem o esperar. O poderoso pode tudo e não conhece limites, a tudo seduz e compra com o poder que tem. Para o poderoso, as pessoas são meras peças do jogo da sua vida, que já tem prematuramente um ganhador: o poderoso.

Para que ter respeito e atenção às pessoas? Elas apenas existem para servir quem tem poder, assim pensa o poderoso. Quem detém o poder interdita ruas para a sua passagem, tem a imprensa a persegui-lo e as colunas sociais são a sua praia; o poderoso não atende pessoalmente o telefone, salvo quando é do seu interesse, delegando todos os assuntos maçantes e banais para a assessoria. Ter poder é ter privilégios, é estar acima do bem e do mal.

Mas o poder cobra um preço: a não existência do anonimato, nem da simplicidade, nem das relações verdadeiras. O poderoso, devido a sua soberba, perde o contato com pessoas autênticas, aquelas que nada querem em troca de um abraço, de um carinho, de um sorriso. Mesmo cercado de um séquito de puxa-sacos, vive a solidão de não saber com quem pode contar e se ilude acreditando ter amigos, que não são mais do que cúmplices de suas jogadas de poder.

Por não ter o anonimato, tem as suas atitudes copiadas ou julgadas o tempo inteiro e não se pode permitir errar. Tem que ser sempre o exemplo e a imagem do sucesso, não podendo perder tempo com futilidades. O poderoso controla mundos e fundos, mesmo que a sua vida seja sempre exposta. Seus filhos e cônjuges pagam também o preço dessa força que o poder traz e, assim como o poderoso, ganham logo o título de "doutor", sem jamais terem passado pela porta de uma universidade para fazer um doutorado e fazer jus ao título.

O poderoso é uma vítima do seu próprio poder; se embriaga de estar acima dos simples mortais, por estar além do bem e do mal. O que se questiona é que tipo de pessoa sobra quando se retira a ribalta? O que sobra do poderoso quando se lhe retira o poder? Quantas criaturas cheias de ressentimento e egoísmo se escondem atrás do poder? Quantos pedófilos, exploradores, larápios e infames se escondem nas roupagens do poder?

Mas nada é para sempre. A verdade de cada um aparece ao longo da vida e esta puxa o tapete de todos nós ao longo de nossa frágil existência. A experiência do poder serve como prova, para sabermos quem somos, com quem vivemos e o que queremos, pois a vida sempre cobra o que fizemos das nossas histórias.

Publicado no Jornal O Sentinela, no dia 09/02/2011

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