29/08/2011

Estamos morrendo diariamente


A vida é sem dúvida o maior bem que recebemos e cuidar dela não é apenas um direito, é também uma obrigação, pois com a nossa vida muitas outras estão ligadas, pelas mais diversas afinidades.

Ainda na faculdade, com minha, turma assisti a um filme com o título “Mar Adentro”, filme este baseado em uma história verídica, dirigido por Alejandro Amenábar que funciona como um drama imperdível para quem gosta da vida ou para quem precisar reafirmar sua existência. Diria, sem medo de errar, que é uma verdadeira obra de arte, uma poesia pura e visual. A história retrata a vida de Ramón Sampedro (Javier Bardem), marinheiro galego, mecânico de barcos que aos 20 anos já dava volta ao mundo e aos 26 anos, num mergulho em águas rasas, instalou-se para sempre em uma cama, entre as quatro paredes torturantes de seu quarto de onde olha o mar, o mesmo mar que tanto viajou lhe roubou a vida e a juventude.

Ex-marinheiro era um homem totalmente saudável, inteligente e viril, que ficou tetraplégico ao sofrer um acidente e ser obrigado a viver, contra sua vontade, paralisado em uma cama, dependendo da ajuda de seus familiares para todas as suas necessidades básicas. Vinte e seis anos depois, ele consegue uma advogada disposta a ajudá-lo na luta em legalizar a eutanásia e finalmente morrer com dignidade. Confrontando questões morais, religiosas e sociais, Ramón tenta legalizar uma petição que lhe dê autorização para cometer eutanásia, sem que nenhuma das pessoas que o ajudassem saísse prejudicada por suas ações.

Desde então a vida para ele é uma "humilhante escravidão" e sua única fuga são os sonhos e a vidraça que separa o seu mundo do alheio. Esse é um drama em que morte e vida digladiam-se o tempo todo. Dono da vida, o ser humano deve ser também, dentro de determinadas circunstâncias e segundo certos limites, o dono da sua própria morte, esta é uma das afirmações mais fortes que faz o personagem durante o filme, ou seja, viver é um direito, mas não pode ser uma obrigação. De fato esta é uma questão muito delicada e complexa, ela contraria a afirmação feita no início deste texto, embasada na existência de outras pessoas que sofreriam demasiadamente com a perda de tal ser humano, a família. Mas por outro lado, no próprio caso exposto, não seria egoísmo querer que uma pessoa que perdeu totalmente a sua qualidade de vida, que não tem mais perspectivas de melhora, que está num profundo sofrimento, fique viva, apenas para que a família não sofra sua partida, porém ela pode ficar condenada a prisão perpétua em seu próprio corpo?

Certamente todos nós ainda carecemos de muito esclarecimento e reflexão a respeito de certas situações que muitas vezes inesperadamente passam a ser uma realidade em nossas vidas, como o caso citado. Viver para muitos de nós não é tarefa fácil, diariamente somos colocados a prova. E se viver não é fácil, a morte então, está embrulhada num papel pintado de dúvidas, medos, inseguranças e incertezas. Cada pessoa tem as suas convicções a crenças, eu particularmente, acredito que nossa vida é uma viagem, que estamos aqui de passagem, e daqui só levaremos o resultado das nossas ações diárias, elas é que delinearão como ficará a nossa imagem quando fizermos a passagem. A morte é algo indesejado por todos, porém ela na maioria das vezes nos pega desavisados, causando uma grande dor e principalmente tamanha indignação sobre o seu por que. Precisamos, embora seja muito difícil nestes momentos, entender que ela é apenas uma separação momentânea, onde o amor não precisa acabar, não é porque não estarão mais juntos fisicamente que precisam matar o sentimento, pois discordo quando vejo as pessoas escreverem em seus sites de relacionamento (MSN, ORKUT, FACEBOOK) “Luto Eterno”, porque eterno é uma palavra muito forte para fazermos tal afirmação. Para os que acreditam em reencarnação, quem duvida que a pessoa que fez a passagem, em breve não esteja novamente entre nós, não tenha nascido talvez até na nossa família, talvez tudo isto dependa do que já citei, a carga de ações que acumulamos ao longo da nossa vida. Creio que aqui estamos para aprender e aperfeiçoar algo que ainda nos faltava para nosso crescimento enquanto seres humanos e o nosso tempo de permanência junto de Deus será o tempo necessário para nos regeneremos e preparemos para um novo aprendizado aqui na terra.

As pessoas têm tanto medo da morte, mas não percebem que estamos morrendo todos os dias um pouquinho, que a cada dia estamos mais perto dela, que cada minuto que passa em nossa vida é um pedacinho dela que está morta, deixando apenas lembranças do que fizemos. Portanto reside aqui o maior dos fundamentos e argumentos para que você aproveite a sua vida da melhor maneira possível, da forma que lhe trouxer felicidade. Uma antiga crônica, de autor desconhecido, diz assim: Quando você nasceu, todos sorriam e somente você chorava. Viva de tal forma que quando você morrer, todos chorem, somente você sorria.

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